O financiamento de soluções inovadoras de energia sustentável
Num anterior artigo abordámos o conceito de “financing gap”, ou seja, a enorme discrepância entre o financiamento disponível a nível internacional com vista a projetos de instalação de energia em zonas rurais e a realidade dos atuais projetos em desenvolvimento, como é o nosso caso. Entre 2 e 5 de junho 2015 Setu Pelz e eu próprio estivemos presentes e interviemos nos Dias Europeus do Desenvolvimento em Bruxelas. A nossa presença no stand de exposição realizou-se em parceria com a Schneider Electric e a Aliança para a Eletrificação Rural ARE.
Enquanto start-up, a RVE.SOL tem enfrentado inúmeros desafios com vista ao financiamento de projetos de desenvolvimento rural nos países onde temos operado, pois é exigido um investimento avultado por parte dos promotores (que assumem o risco) a fim de se criar propostas que obedeçam aos requisitos impostos pelos financiadores.
Fomos convidados para intervir no painel sobre “O financiamento de soluções inovadoras de energia sustentável”, cujo debate foi interessante, dado que cobriu diversos pontos de vista e deu-nos a oportunidade de partilhar desafios e trocar ideias. Deste painel fizeram parte a Carbon Africa e a RVE.SOL enquanto promotores de projetos, fora da rede e ligados à rede elétrica, respetivamente, e a Hexafin e a Schneider Electric enquanto financiadores e investidores, contando ainda com a moderação por parte de Michael Franz da Iniciativa Europeia para a Energia.
Uma das conclusões mais relevantes foi precisamente a confirmação, por parte do painel e por muitos dos participantes, da existência desta discrepância no âmbito do financiamento, como se esta realidade estivesse para o mundo rural, como o Boson de Higgs está para a física, ou seja, está demonstrado que existe, apenas não o podemos ver! Assim, não só o acesso à energia é uma necessidade nos países em desenvolvimento, como vários modelos têm revelado que, no terreno, os benefícios resultantes desse acesso são muitos e de enorme abrangência, como o financiamento existe e os projetos também. Resta perguntar: por que razão há, então, tão poucos e dispersos exemplos de sucesso? A discussão pode ser escutado na versão gravada em inglês aqui.
Consideramos que são três os fatores que contribuem para esta situação:
- Os financiadores tendem a medir o possível sucesso de um projeto baseado em indicadores como o custo de investimento por beneficiário por projeto, os diferentes níveis de acesso à energia, o impacto social e ambiental, a experiência anterior do promotor, entre outros, sendo que cada financiador tem as suas próprias métricas.
- Tratando-se de um mercado nascente, ONG e empreendedores sociais, como nós próprios, não dispõem de um histórico, necessitam de o construir, mas não o podem realizar porque não têm experiência anterior, o ciclo repete-se e cada promotor tem a sua abordagem e solução para o problema.
- Nos países em desenvolvimento há níveis distintos de compromisso em termos do acesso à energia. Existem alguns casos de ordem formal, outros informais, mas poucos com escala ou apresentando-se como estudos de caso de verdadeiro sucesso. E cada país aborda o tema de modo igualmente diverso.
Em última análise, este problema e o tema da pobreza, ou a situação de 1.2 biliões de pessoas sem acesso à energia, é o mesmo em todos os países e até em todos os continentes: uma abordagem largamente consensual acaba por orientar a resolução para parcerias público-privadas (em que o setor público dispõe das verbas e o setor privado da tecnologia e da vontade).
A nossa recomendação é esta: o setor do acesso à energia em zonas rurais necessita de uma abordagem consistente para melhor avaliação do desempenho de investidores, promotores, projetos e países, de modo que os indicadores sejam transparentes, definidos com clareza e possamos todos trabalhar para o mesmo objetivo: 100% de eletrificação nas regiões mais pobres e marginalizadas, através das energias renováveis, até 2030 (objetivo da SE4ALL).